Taurus tem faturamento e lucro recordes na venda de armas

O CEO da Taurus, Salesio Nuhs, durante posse do presidente Jair Bolsonaro, em 2019 | Reprodução
O CEO da Taurus, Salesio Nuhs, durante posse do presidente Jair Bolsonaro, em 2019 | Reprodução O Globo

Principal fabricante de armas do país e uma das maiores companhias do setor no mundo, a Taurus começou o governo Bolsonaro sob ataque da família presidencial, mas comemorou em 2021 o seu melhor faturamento, de R$ 2 bilhões, e um lucro líquido recorde, de R$ 428 milhões. 

A empresa, que tem ações vendidas na bolsa de valores, só divulgou até agora os resultados dos três primeiros trimestres de 2021, e mesmo assim já teve resultados recordes. 

O próximo balanço, que vai consolidar as vendas do ano, será divulgado em março. Ou seja, tudo indica que o lucro e as receitas deverão aumentar ainda mais.

Desde a eleição de Jair Bolsonaro, a receita da Taurus já cresceu 204,7%, e o lucro, 1.059%.

As ações da empresa estão entre as que mais se valorizaram em 2021 – 59% de alta no ano. Antes mesmo da posse presidencial, o valor dos papéis da empresa já tinha disparado. Cotados a R$ 1,70, em janeiro de 2018, chegaram a meados do ano passado no patamar de R$ 20.

Os números constam dos balanços da empresa que mostram que 76,6% da receita da Taurus vem de vendas para o mercado externo.

Ao longo dos últimos três anos, uma série de decretos assinados por Bolsonaro ampliou o acesso de brasileiros às armas e munições, aquecendo as vendas da Taurus e de sua controladora, a Companhia Brasileira de Cartuchos (CBC), fabricante de munições. 

O presidente ampliou licenças para a posse e o porte de armas, revogou portarias do Exército ligadas ao rastreamento e ao controle de armas, aumentou o limite anual de aquisição de munições e entre outras medidas.

Tanto a Taurus como a CBC são classificadas pelo governo como Empresas Estratégicas de Defesa e detém o monopólio da fabricação de armas e munições no país. 

Ao longo da campanha, os Bolsonaro encamparam as críticas das forças policiais à qualidade das armas da Taurus, em função de problemas de qualidade e um histórico largo de incidentes envolvendo suas armas. 

Depois de iniciado o governo, porém, o humor dos Bolsonaro em relação às fabricantes nacionais mudou. 

O CEO da Taurus, Salésio Nuhs, estava entre os convidados para a posse de Bolsonaro. Em janeiro de 2020, a Taurus acompanhou Bolsonaro em sua viagem oficial à Índia e assinou assinou uma joint venture com uma empresa indiana para fabricar armas no país com tecnologia brasileira.

O monopólio não foi quebrado até hoje, e a Taurus colheu resultados recordes, porque a flexibilização levou a um aumento sem precedentes do registro de armas de fogo no Brasil. 

Somente em 2021, 204 mil dispositivos foram licenciados pela Polícia Federal – 300% mais do que em 2018, quando Bolsonaro se elegeu. 

O ano de  2021 também foi o ano em que a Câmara de Comércio Exterior (Camex) aprovou o fim do imposto de exportação de 150% sobre armas e munições, praticado pelo Brasil desde 2001 nas vendas para países da América do Sul, Central e o Caribe, com exceção de Argentina, Chile e Equador. 

A alíquota, imposta para frear o retorno de armas exportadas legalmente pelo Brasil via contrabando, foi derrubada depois que o Ministério da Defesa e a cúpula da PF passaram por cima de uma nota técnica da corporação, como mostrou o blog. 

O desempenho acima do comum fez com que a Taurus se tornasse a terceira maior fabricante de armas curtas do mundo. 

A companhia não esconde de ninguém o desejo de se tornar a maior produtora de armas de fogo do mundo – meta reiterada pelo próprio Nuhs no informe encaminhado aos acionistas. 

A disparada nas vendas e no preço das ações ajudaram ainda a eliminar um outro problema para os acionistas – uma dívida milionária, que  assombrava a empresa há anos. No final de 2020, o passivo era de R$ 775,4 milhões.

O endividamento, que tem em boa parte origem na controladora da Taurus, era um obstáculo para a confiança dos investidores. 

Isso porque o acionista majoritário da companhia, Bernardo Birmann, de 37 anos, que detém 83% da BYK, holding da fabricante e da CBC, é suspeito de ser laranja do pai, Daniel Birmann. 

O empresário é responsável por uma dívida de em torno de R$ 600 milhões pela falência da metalúrgica SAM Indústrias, em 2005. Também foi multado em R$ 243 milhões (R$ 500 milhões em valores atualizados) pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM), que regula o mercado financeiro, e vem sendo perseguido por credores e pelo Fisco.  

Por esse motivo, o Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro chegou a bloquear as ações ordinárias da CBC em 2018, mas a decisão não perdurou.

Texto: Johanns Eller para O Globo

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